Os processos modificados pela pandemia, e as reflexões necessárias para evitar novos sofrimentos.

O mundo acabou de mudar, e mudou muito rapidamente.


Foi uma pancada que acabou desengavetando muita coisa que já estava pronta e não acontecia por medo, resistência ou defesa de território.

Mas, veio a pandemia. De 21 de dezembro de 2019 até 21 de abril de 2020, no mundo inteiro, dois milhões e quinhentas mil pessoas foram infectadas com o vírus Covid-19, e destas, mais de cento e setenta mil perderam a vida.

A velocidade de contágio e a evolução grave e rápida da doença colocou muitos países de joelhos.

Primeiro a China, que trancou tudo, isolou agressivamente os cidadãos, e utilizou freneticamente tecnologias para controlar a movimentação dos infectados. Não adiantou.

A doença rompeu fronteiras, e começou a causar muitos danos na Asia e no Oriente Médio. E, quando atingiu a Europa, o resto do mundo se deu conta do tamanho e da gravidade do problema, que até então vinha sendo menosprezado por muitos.

Na Itália, esse menosprezo perdurou por cerca de 15 dias, inclusive com campanhas do tipo "Milão não pode parar!", para justificar a contraposição das orientações de isolamento da Organização Mundial da Saúde, consideradas severas e desnecessárias naquele momento. Rapidamente, os hospitais lotaram, e com um fluxo intenso de doentes buscando atendimento, mas sem leitos disponíveis, a Itália viveu um terrível ciclo de mortes desnecessárias e pânico, e quando adotou finalmente o isolamento, já era tarde.


Itália tem maior número de mortes por coronavírus em 24 horas ...
A Itália ainda sofre as graves consequências da Pandemia
Histórias semelhantes aconteceram quase concomitantemente na Espanha e na França. No Reino Unido, espantosamente, mesmo vendo a experiência dos vizinhos, optaram por orientações mais brandas, e o rebote chegou a ser irônico, quando inclusive o primeiro ministro da Inglaterra precisou de cuidados intensivos para se recuperar.

Todos os países que optaram por orientações menos rigorosas de isolamento, pagaram ou estão pagando um preço muito alto.


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O Presidente Bolsonaro e o então Ministro da Saúde, já demitido
Aqui no Brasil, começamos bem, talvez até antes da hora ideal, com uma equipe atenta e ações robustas de isolamento, que foram muito bem sucedidas em segurar o ataque inicial da pandemia, mas uma crise política entre o Ministro da Saúde e o Presidente da República acabou desorganizando as contingências aplicadas, e hoje o cenário é de extrema insegurança sobre como será a evolução da doença nas próximas semanas, agora já sob a gestão de uma nova equipe no Ministério da Saúde, e com o assédio permanente do presidente para o retorno das atividades comerciais e da circulação normal das pessoas, contrariando todas as orientações da OMS.

Esta terrível experiência global trouxe à tona a reflexão geral sobre a utilização de ferramentas que facilitem o acesso aos serviços de saúde, sem colocar em exposição os profissionais responsáveis pelo atendimento. 

Rapidamente, muitos profissionais enxergaram na Telemedicina, na Teleorientação e na Teleconsulta os cenários mais adequados para combater a pandemia, e, mediante essa pressão imediata, permissões foram reguladas e publicadas, expondo um cenário frágil de resistências e burocracias injustificáveis para adoção de mecanismos benéficos para todas as partes envolvidas.

As pessoas já tinham aderido há muito tempo aos serviços e plataformas digitais capazes de facilitar serviços, transportes e entregas, mas na área da saúde existia um conservadorismo insustentável, que caiu por terra com a pandemia.

Aquilo que poderia ter sido construído com calma, projeto e qualidade, teve que ser feito do dia para a noite, na correria, e, certamente, sem utilizar os recursos possíveis na sua amplitude total.


2020: o ano da telemedicina | Portal Hospitais Brasil
A Telemedicina passou a ser indispensável
O cenário das possibilidades reais é claro, com exemplos amplos de atendimento remoto, robôs de telepresença, IOTs dos mais diversos tipos capazes de monitorar pacientes à distância, Processos robotizados e suficientes para atender às dúvidas mais comuns da população, utilização maciça (e muitas vezes insegura) de aplicativos de videoconferência, de reuniões virtuais, etc.

E, na contramão desta história, estamos vendo enormes estruturas instaladas ociosas, como consultórios, ambulatórios, centros cirúrgicos vazios, pois ninguém em sã consciência irá se expor desnecessariamente. Tudo isso já estava aí, tudo já estava ao nosso alcance. Uma pena que foi preciso uma pandemia para abraçarmos os benefícios oferecidos pelas novas tecnologias, e para desapegarmos de processos ultrapassados, que já não ofereciam a resposta necessária para as demandas atuais.


Tomara que possamos aprender a avaliar recorrentemente as inovações e aprimoramentos que acontecem ao nosso redor, sem precisar levar novas pancadas, pois esse momento ainda vai nos oferecer muita dor e lições que devem ser colocadas imediatamente em prática.

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